Comemoração dos 83 anos do IBGE foi transformada em atividade de defesa da intervenção e dos cortes no Censo
Todo ano, no dia 29 de maio, o Brasil celebra o dia do Geógrafo, do Estatístico, do Sociólogo e do Operador de Máquinas. A data em si já é bem curiosa para os que gostam de história. No resto do mundo, celebra-se o Dia Internacional dos Mantenedores da Paz das Nações Unidas.
É também aniversário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que tem por missão, proclamada por orgulhosos IBGEanos:
“Retratar o Brasil com informações necessárias ao conhecimento de sua realidade e ao exercício da cidadania.”
No último dia 29 de maio o IBGE comemorou 83 anos de idade de um jeito diferente dos últimos anos. Em meio a cortes e mais cortes, orçamentários ou não, não houve uma nota sequer na nossa inestimável Intranet, nenhuma organização de festinha, nem bolo, nem velas. Nada. Parecia mais um funeral.
Como bons IBGEanos, não podíamos deixar que uma data com tamanha importância passasse em branco. Por isso o Núcleo Sindical de Santa Catarina da ASSIBGE-SN promoveu um debate sobre os cortes no Censo, no auditório da Unidade Estadual, com trechos dos vídeos de uma audiência pública realizada na Câmara dos Deputados, em Brasília, com a presença de Maria Vilma Salles Garcia, diretora da COC (Coordenação Operacional dos Censos) e Eduardo Pereira Nunes, presidente do IBGE no último Censo Demográfico, em 2010.
Faltaram cadeiras para o público, tamanho foi o interesse. Ora, mas é claro, a questão afeta a maior operação da instituição e sua credibilidade, que IBGEano não estaria interessado? Aparentemente a maior parte da direção, que não estava, ou tinha compromissos mais importantes.
Passada a data, eis que a direção da UE/SC resolve comemorar o aniversário atrasado e, olha só, falando sobre os cortes no Censo 2020! Foi um debate? Não, foi um monólogo. Dos mais constrangedores já presenciados, com direito a planilhas mágicas e uma hora para que Alceu Vanzella, ex-chefe da unidade, aposentado desde o ano passado, defendesse os cortes no questionário do Censo.
Foi uma peça de propaganda, a mando de instâncias superiores, sem qualquer discussão com a base de trabalhadores, de ordem convocatória (os prédios do IBGE em Florianópolis fecharam durante o evento), sem contraditório, sem consulta, e desorganizado (mudou de auditório em cima da hora, e-mail/convite/convocação foi apenas para efetivos, ignorando os APMs – que são a maioria da nossa força de trabalho).
Foi bastante infeliz a escolha da oportunidade para defender a (indefensável) intervenção e os cortes orçamentários e no questionário. O ex-chefe (aposentado) mais parecia o chefe em exercício e durante a peça de propaganda destacou a falta de experiência do atual corpo técnico. É até compreensível que uma pessoa, depois que se aposente, se ache imprescindível para a execução de certos trabalhos, e demonstre preocupação com os rumos da instituição após sua saída, mas todos podem concordar que o IBGE sobreviverá à ausência dos que… bom, estão ausentes.
Houve também a acusação de que “alguns de dentro vão torcer contra”. É estranho mas, a nosso ver, defender a Instituição é defender sua autonomia, liberdade de decisão e prestígio do corpo técnico. Quem vai contra esses preceitos e defende interventores é que “joga contra”!
Teve até uma ameaça (não tão) velada: “cuidado, a corda estoura do lado mais fraco”.
O Sr. Alceu, claramente, não ignora que mais da metade dos trabalhadores do IBGE são temporários e parece ter mencionado a covarde demissão de 186 APMs que participaram da greve de 2014. Eles também mereciam homenagem, diga-se de passagem.
Mesmo assim, a palavra de ordem era “união”.
Como usar o mote da “união” dividindo e ameaçando o próprio corpo técnico, ignorando completamente que parte dele foi exonerado por discordar da presidente e vários técnicos importantes da casa entregaram seus cargos como forma de protesto à intervenção que vem ocorrendo de forma escancarada? Que há a campanha Todos Pelo Censo 2020 sendo encabeçada pelo Núcleo Chile da ASSIBGE-SN, que promoveu um evento com mais de 300 pessoas, contando com a presença de três ex-presidentes do IBGE? Quem é que quer se unir, e quem é que está dividindo as partes?
Para nós, “torcer a favor” é contestar os aventureiros, como o Paulo “Breve” Rabello de Castro, que até medalha pro Temer deu. Também é compreender que a presidente atual, que ontem assumiu o órgão e amanhã o deixará, está a mando do Guedes, que falou até em vender prédio para custear o Censo, e de Bolsonaro, que não perde tempo em criticar nossas pesquisas.
Não há nada de liberal em apoiar intervenção!
E quem paga a conta é o Brasil, e nós, enquanto servidores, temos a OBRIGAÇÃO de servir ao Brasil, e não ao BID, Banco Mundial, Paulo Guedes ou o Raio que o Parta!
Pelo menos houve uma constatação boa vindo de tudo isso. Se havia alguma dúvida, não há mais: precisamos urgentemente de um amplo e sério debate sobre o questionário do Censo Demográfico de 2020 e o papel do IBGE na sociedade brasileira.
O sindicato, que sempre lutou em defesa do IBGE e dos IBGEanos, vai promover esse debate e esperamos que dessa vez a direção participe também para ouvir e responder:
- Qual o orçamento do Censo?
- Quais registros administrativos serão usados?
- Como os municípios terão informações que não constam no questionário do Censo?
- Como vai usar o Big Data?
- Como vai conseguir preencher o vazio da sociedade com estes dados?
- E os concursos públicos?
- Sabe que temos quase 1,3 mil pessoas para aposentar?
- Quem ocupará os cargos dos servidores que pediram exoneração e que são chaves para o Censo?
- Eles sabem que vão responder pelos erros destas lacunas?
- Qual o projeto da presidente/governo Bolsonaro/Guedes para o IBGE?