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Seis por meia dúzia – Eduardo Rios Neto dá continuidade ao conto da carochinha dentro do IBGE

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

No início de 2018, quando Susana Guerra foi nomeada presidente em nossa instituição, alguns ibgeanos defenderam sua nomeação. Era o início do catastrófico governo Bolsonaro, tendo à frente do ministério que hoje abriga o IBGE nada menos que Paulo Guedes – o exterminador de funcionário público. Porém, mesmo com todas as evidências do que viria pela frente, não se sabe se por ingenuidade, alienação, esperança ou afinidade ideológica com o atual governo ou, ainda, talvez impressionados pela juventude, pelo currículo da nova presidente (afinal MIT e Harvard pesam, right?) e pelo brilho de seus olhos escutou-se um “deixem-na trabalhar!”, como se um morcego pudesse parir um panda…

Quando chegou, a economista amiga da filha do ministro já disse a que veio e aceitou de bom grado a tesourada de nada menos que 800 milhões de reais do orçamento do Censo, diminuindo-o em cerca de 25% do valor previamente estabelecido – e que já havia sido reduzido antes. A perda acumulada em relação ao orçamento original, de 3.4 bilhões era de 1.1 bilhão, cerca de 32%. Para conseguir tal proeza, além de convencer os gestores de que o orçamento anterior era bastante perdulário (ainda que sequer tivesse picanha, Heineken e lombo de bacalhau previstos), teve a brilhante ideia de utilizar a sua tesoura de jardinagem nos questionários do censo, reduzindo o básico em 8 questões e o amostral em 26 questões (até porque “se perguntar demais você vai acabar descobrindo coisas que nem queria saber”, já dizia Paulo Guedes). Os dados não pesquisados seriam tirados de outros registros existentes de qualidade bastante questionável. Já se falava então em “apagão estatístico”. Obviamente que o corpo técnico do IBGE, que junto à sociedade civil planejava há anos o Censo, não aceitou tamanho absurdo. Nada que algumas exonerações no Conselho Diretor não resolvessem. E eis que entra o nosso personagem Eduardo Rios Neto, pinçado estrategicamente de fora do órgão. Ele atuou como linha de frente na defesa do corte do questionário, jurando que nada havia relacionado com a questão orçamentária, era tudo técnico. Quanta modernização numa gestão só!

Agora que Susana Guerra saiu derrotada, pra não dizer humilhada, afinal havia garantido que estava tudo arranjado em relação ao reduzido orçamento da operação censitária, confirmou-se o total desprezo que o governo Bolsonaro tem pelo IBGE. O objetivo é deixar a população no escuro para conseguir empurrar suas fábulas alucinadas goela abaixo do povo. Susana tinha contato direto com Paulo Guedes e mesmo assim ficou como uma barata tonta, com seu pires na mão mendigando um orçamento já combalido, com um censo já mutilado. Susana ajudou a destruir e enterrar o Censo e nem podemos acusá-la de ser oposição ao governo. Ao contrário, ela era a liberal moderninha tão sonhada por um bom número de gestores dentro do IBGE. Falhou miseravelmente.

Herdamos agora, de sua gestão, a bomba de um Censo violado, empobrecido, desacreditado, com um planejamento delirante em relação à pandemia e que sequer está confirmado para ocorrer em 2022. Herdamos também Eduardo Rios Neto, que acaba de ser empossado e, assim como Susana, não tem compromisso nenhum com o nosso órgão, não tem identidade com o IBGE, que pode, tal qual ela, pegar seu boné e virar as costas para a instituição a qualquer momento. Pior, pode vir a querer repetir o total desprezo pelos trabalhadores ibegeanos, não abrindo diálogo com o sindicato, dando de ombros para quaisquer melhorias em nossa carreira, já que sequer a ela pertence.

Alguém acredita mesmo que ele, outro interventor, representará uma descontinuidade em relação à desastrosa gestão anterior?

Morcegos não parem pandas.

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